domingo, 4 de dezembro de 2011

Travessia[s]



“Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.”


Testamento; Manuel Bandeira



Imagético

Encaro-me.
Tal como Narciso um dia,
meu mundo sou eu e ninguém mais.
Analiso-me, embasbacado
com as distorções proeminentes
que o reflexo me presenteia.
       No rosto, as lembranças
       de um passado nefasto.
       Exausto, esse é o termo!
O presente, esse cão vil e sanguinolento,
chora-me versos inéditos de pares mortos há muito tempo.
Desatento, quem diria!
       Vagueio por suposições,
       minhas ações futuras,
       ilusões sorridentes,
       num chamariz sorrateiro.
De pé, toco a face de meu próximo-eu...
Irresistível tentação, desdobrada pelo inverso...
Tão real, tanta aversão...

Atravesso o espelho... fusão.

--

Pedras no Caminho

Vivendo atropelado, interpelado pelo caminho árduo da rotina.
Passos longos curtos dias na agonia dessa travesia.
Sobreviver nem sempre é valentia,
uma ponte à revelia na mente que mente se eu poderia.
Atravessar destinos, andar sob sonhos,
correr de desmandos, voar de precipícios,
mergulhar da realidade em busca da liberdade.

--

Trans-verso

Cruzam como veias
Artérias que jorram luzes
Alternadas sobre o céu
ou o Inferno
Que ainda é habitável
Vazio e cheio de minhocas

É verde ou azul
Um tom acordado sobre o verde
Vivo passo sobre o sangue fresco
Sou mãe e pari um caminho
Trans-versal
Atravessa nos versos
E te mostra
Se manifesta
Infesta atuando
E acaba através, ainda.

--

Sémtitolo

Clamei
ainda pela part'ilha
além; é que me toca e
Chorei
pela part'ida

--

Trêmula

Mais uma noite com ela em sonhos me atravessados...
Que de tão claros ultrapassam o pesadelo de acordado
E que todos me avisam que foram apenas sonhados

O que me parecia tão presente, tão em formas, tão em cheiros, tão em hálito
Mas que acordei e que tudo retornou em esferas sonadas...
E que realmente me sinto acordado

Pois essa ausência é mais real que se têm pensado
Em vida em inútil travessia
Que me despertem então...
Que já confundo ela a um ser alado

--

travessio

humano, pretenso humano
pense no Rio
navegado
em sua travessia, por outros rios

humano, levedâneo humano
perceba qu'esse Rio
inundante
será, noite e dia, perene
se reavivado: por esses brios

domingo, 23 de outubro de 2011

Passageiro Coletivo




Oh sol que desponta desta madrugada em aurora 
aquele poeta que escreve sob a via            
A mente ainda vive e vê e sobretudo estima
vilarejos e constelações milhares                  

Sou agora o passageiro que resta               
Dependente                                               
Humano, e não em demasia                         

O’ simplis amor
meteoros de artifício                
Cinza

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Passageiro




“— Onde estamos?
— Já passamos o Éden.
— Bem; paremos na tenda de Abraão.
— Mas se nós caminhamos para trás! redargüiu motejando a minha cavalgadura.”

(O Delírio, Machado de Assis)






“PRIMIRUPPUEMA DI MAKINA D’ISCRIVIRI (MUTI-LLADÙ)”
Não é bertura
E só puemas
E só puemas são

É reflecxão sobri u tempu-paçça
U vazio Dadá
Sonhu vilipendiadu
Sobem lácrimas nunca ‘xistentes
Antigravitacionaiz-clepsidráulikas
Poi u Curação é plâncton
I discunjurar é peixe absal

Eu
Nada di’análisis ego-procurativas-resolutas-so’eu q’choro sobri mi
Soment’ ‘ma metalinguist’ ca
O’ simplis amor
O’ m sonhu boum
O’ hábitu
D’iscriviri
Numa makina discriviri

“<rev mmix>“

lembra dos fogos caindo
                    e o ano começando
lembra?
            os fogos caíram
                         os anos passaram
lembra de mim
lembra de nós
meteoros de artifício
o fogo perto, distante
incandescentes, cada um a seu lado
um mesmo lado, o de dentro

o fogo distantou, perdeu-se
hoje nem faíscas, nem fagulhas

“O pêndulo vivo”
As pessoas nas ruas
Não é possível sentir o gosto
Do caminho do protesto ou do trabalho
Nem doem os pés castigados pelo calor
Que passam amor, mudança e vida.

Eu vejo tudo passar sem surpresa
Porque se havia segredo eu o perdi
Pois o achei cedo demais
E nada surpreende porque tudo passa
A crueldade é dona passageira do tempo
Mas cativa seu lugar
Não há mais supresa.

Dou voltas nas ruas e ouço protestos
Dos que sentiram passar o desconforto
De viver nesse lugar
Ocupo o que passa
A mente ainda vive e vê e sobretudo estima
Mas surpresa não há
Vontade é desapontamento
Mas tudo passa e não há mais nada além do passar.

“O PASSAGEIRO E AS PASSAGEIRAS”
o passageiro tranpos as cidades
vilarejos e constelações milhares
estendido em barco solitário
com o revés d'estelares saudades
vislumbra um desejo que lhe redima
e lhe impinja um afeto tão profundo
como o mundo: o seu; relicário

nesse acaso endereçado
comunicado lado a lado
o passageiro re-encontrará
por momentos o sentimento-mór
desfazendo-se do vínculo com o pó
- no seu corpo poroso
duas almas se esparramam
cada uma tatuagem de um só tempo  

na sua infindável estrada
não se sabe pra onde vai
e de onde veio, não se volta

os passaportes do passageiro 
estão lotados de histórias-carimbos
memórias-nevoeiros
damas enevoadas: passageiras


"O agora passageiro"

As mãos espalmadas agora distantes
Olhar fixo, agora vago pelas brumas da lembrança 
O brilho negro dos olhos não conta nada do que se passou

O presente é o passado traduzido 
O efêmero se transforma em suspiro
E a revolta do coração contraditório afasta o que se foi

Oh sol que desponta desta madrugada em aurora 
Levando a lua companheira de minha insônia
Que trago agora neste dia que aflora?
Apenas versos do passageiro de um amor caipora.


"Passageiro sem sentido"

Levo a vida de passagem,
na bagagem uma mochila cheia de sonhos e prantos,
e da janela vejo o vento soprando o cansaço da estrada.
Sem destino e com um bilhete carimbado,
vejo o mundo do vidro, em pé, sentado, deitado,
num verdadeiro sinônimo coletivo dos sem sentido.
Ideias cravadas nas catracas da vida,
por favor não incomode
aquele poeta que escreve sob a via.



"Passagem"

Foi-se o tempo
que a tinha como mastro principal
de meu barco – a crença.

De tecidos foram tantos
que contá-los não me coube
porque tal julgamento
logo foi desfeito.

Aqui dentro
levo agora a indiferença
como guia astral.

Sou agora o passageiro que resta,
único rato a não saltar ao mar,
na certeza inópia
da servidão solitária.

Foi-se o tempo,
carregando consigo a crença e a coragem,
deixando para trás
esse maltrapilho errante,
passageiro único de um barco sem direção.

"Autônomo"

Soberbo e fútil. 
Incapaz e pretenso original.
Dependente.


Eu padeço de quebra de ritmo, mas chegaremos lá:
Passa, sempre passa
Vazio, é o presente que você traz
Passageiro, foi o prazer etéreo de sua proximidade
Porque passa, sempre passa
E cansa sua faceta de bondade
E não que ela seja mentirosa
Mas aquilo que não lhe acumula sucessos em grosa
Não lhe enferma em não ser respondido
Parecia eterno, parecia infinito
Mas vira clichê o que era bonito
Humano, e não em demasia
Comunicação imersa na afasia
Decepcionaram os bons sentimentos destinados a você
Vigilante foi meu carinho
E sim Cartola, o mundo é um moinho,
E o que senti reduziu-se a pó
Mas se te satisfaz, informo que já faz uns dias
Que da minha atenção você já está só
Torrencial, passageiro e dinamo,
Nossa vivência me trouxe alegria
Houve bonança, mas prefiro a calmaria
Da certeza de que tudo passa, sempre passa



“Motivo”
voltavolta voltavolta voltavolta voltavolta voltavolta voltavolta
Carpe diem
Por favor !
passando-no... s
enquantos
                                                     [Meu bisavô]
.....     ........   ...    .   ..         ?        .       .

Ajudem-me a limpar a casa !
Será quecego estou?
                                                                            ,
Ansiedade imensa porta fechada
É     v ão?
È     fr esta
Ferrugem...
Degredo
Ocaso
Poeira
Cinza
Deste porto nunca dantesnavegado
............        ......        !          ....      ...       .        .
ficafikaficafika ficafikaficafika ficafikaficafika ficafikaficafika
 . .  . . ..........        ........         .....          .          .  .
Amenófis lV
Átila
Gandhi
Jesus
Cleópatra
Zumbi
Madre Teresa
Che
São Francisco                        
                                                         [minha bizavó]

Hó antiquíssimos Impérios !

Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z Z     z
Inte
         grarei-me
                              à terra. ,,,,,,,,                        ,

ciranda
                                                        Lancheira

                   catapora             groselha

               giz                               algodão-doce
Amarelinha
                                       aniversário  

                         chuva                 ra
                                              gi      gi
                                                  ra
                                   amora
desenho

- Tem alguém ai?

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Coletivo



"O medíocre fala de pessoas. 
O comum fala de fatos 
O sábio fala de idéias."
(provérbio chinês)






"Individualmentem"

Tomo o coletivo solitário
papéis e braços e sapatos e hálitos e aparelhos
.......................
Não bom-diam-me....
estálticos
espreiticos
ermosurbãnicos

.................................................................

Sento-me num meiodia no chão da Praça do relógio
manada-Discente automáticos ultrapassam-me
Determinados vão sua individual parte do trabalho coletivo farão
protocolares
reprodutores....

noite amordaçada
O sol não esperou
calculamos ainda mais zumbis
amanhã
didáticos
Individualizadamente didáticos

xxxxxxxxxx

"Primus"

Eu coleto:
sou denominador.
Você compartilha:
lança-se a rede.
Ele colide:
personifica a discussão.
Nos agregamos:
somos, da junção, definidos.
O estratagema é imbuído.
Nascemos ímpares
na ideologia.
Porém,
como tudo que resiste,
a essência
é imperativa:
surge o coletivo.
A fração é descartada.
A ideia está [in]completa!

xxxxxxxxxx

"omnibus"

navios negreiros do momento agora
neles 
                              brancos
mulatos
            cafuzos
mamelucos
                                           estrangeiros
e demais malucos, ambos brasileiros
em comum: todos aqui somos escravos
do capital, que não te(re)mos
do tempo, que se escasseia a cada semáforo
do espaço, que se acaba no contíguo
da vida
sofredia
suprimida nesse engarrafado
dia 
dia

omnibus
coletivos corretivos dos sonhos
parados ou se deslocando em meio aos corredores
nele ódio, amores, sono, som
convivem juntamente, justamente com os vivos
que compõe seu intestino
seu destino;
sua trilha  

xxxxxxxxxx

"Evasão"

Utopia de todo dia, poesia.
Diante dos lapsos inconscientes
do fazer humano recitamos a vida,
descrevemos a briza., Dos ventos
oriundos dos pontos cardeais
do nosso ínfimo consciente,
direcionamos um sentido suporte de
celulose, analógico/digital,
do registro das dores do pensar,
uma descarga filosófica com uma
corda mágica do pensar.

xxxxxxxxxx

"Deladecrentamento"

Ao mar daqueles que me banham
Na ardência da areia
Na amargura de seu gosto
Composta ao infinito que cansa os cálculos, os olhos com lentes
É o contraponto do mar, separados entre amor e ódio
Me banham mesmo assim

Um me suja, outro me limpa
Outro me limpa, todos se sujam
Me afogo no sólido
Me afogo no líquido
Me afogo no composto que está oposto a tudo que me cerca

C'um punhado da medida da minha mão rogo uma oração
Os infinitos caem pouco a pouco numa beleza ordenada
E tudo ainda acontece
Não me ouvem, não calam
São compostos e nasceram para banhar

Sinto a provocação da maré
E o arder da areia que ajudada pelo sol expressa sua vontade de queimar
E o arder salino que me banha refrescando
Acaricia e me pune
São compostos, opostos
Fazem o que querem comigo
E luto para fazer o que quero com o composto

Posso acabar engolido
Não importa onde
Posso acabar


* Imagem retirada daqui