segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A uma garota do bairro


Tema inspirado na poetisa chinesa Yu Xuanji, nascida em Chang'an durante a Dinastia Tang. Considerada a primeira poetisa chinesa em romper a voz passiva convencional das mulheres em poesia e lírica. (Cronópios)

Yu Xuanji
鱼玄机

A UMA GAROTA DO BAIRRO

A manga esconde em gaze o dia, tímida
E é primavera, há que maquiar-se
Dar com tesouros sem preço: isso é fácil
Achar um homem amante, tão difícil
No travesseiro as lágrimas se ocultam
e em meio às flores cala o coração
mas se posso paquerar um Song Yu
por que lamentaria um Wang Chang?* (*bonitão, mas sem densidade)

赠邻女
羞日遮罗袖,
愁春懒起妆。
易求无价宝,
难得有心郎。
枕上潜垂泪,
花间暗断肠。
自能窥宋玉,
何必恨王昌。

--

Melody

Pelas ruas tranquilas
Árvores adquirem formas genitais
O concreto derrete 
Inverte os pés
Queima os solados
Os cabelos adquirem formas angelicais

Falam manso ao ouvido
Discretamente sorri 
À soma dos céus à terra
Desvelam-se no andar irreprodutível
No cigarro ofereço fogo
Caminhando sobre a terra disponho
Água num banho de rosas
Roubo o ar num ósculo
Demorado no tempo das nuvens carregadas
Quintessencio o silêncio da criação da luz
Curo todos seus calos de trabalho duro

Seus olhos mudaram de cor

É hora de voltar para casa
Me transformo em uma garota
Mostro a língua e seus olhos desaparecem
É hora de voltar, sem mim.

--

Cúmplices

Mais uma vez aqui,
Sentado na calçada.
Protegido pela luz trôpega de um poste,
Aguardo sua chegada.

Ensaio o que dizer,
Na ânsia de perfeição.
Momento celestial este
Em que, ao vê-la, direi:

Hoje, vamos caminhar pela lua,
Mãos dadas com o vento,
Antes que o meu despertador
Venha nos atrapalhar.

--

Entre becos e vielas

Te vi crescer e crescer vi a paixão, 
o desejo e a vontade por ti.

Diante dos becos e das vielas percorriam
seu perfume, suas tranças, tuas andanças,
o que fazia me perder, por dentro e por fora,
diante de tanto te querer.

Abre a janela da favela. 
Você vai ver a beleza que tem por dentro dela. [1]
A beleza se chama bairro e nos faz sentir dor, alegria e amores.

[1] Janela da Favela - Ponto De Equilibrio

--

Novinha

Indignam-se ao montes
por pouca monta, coram logo o rosto quando a veem
e o escárnio toma comunhão aos
rancorosos. Que covardia!
Quanta falta de carinho!  
Cálida face, cambitos de taça.
Nunca vi.
Fui ver, já entrou.
Fui ver, já saiu.
Fui ver, já subiu.

--

[linhas ao lado]


si’ncontraram
receosa, pensava alto sobre suas baixezas
medroso, flertava rouco: ante tanta beleza

dsi’ncontraram-si
no invisível deslumbrado em fábula
em pombas, poetas, artistas: a mágica
na avenida da vida armada em concreto

ele ela, decerto, não eram nós - mas linhas
paralelas, vizinhas, conexas; ou si: a sós…
o resto da poesia é quem diria (no após)
--
esfíngica
ou
About a bitch
ou
A gentil
ou
...aquela que não fala com estranhos na fila do teatro.

Há uma garota que mora nesse bairro
E que têm a pele rosada
E que sorri sempre ao vento
E faz charme de brava

Na babilônia do asfalto
Vênus de mármore desbotada
Carrega em segredo consigo
Um eterno beijo guardado

narcísica
Olhos fixos no Pinheiros...

Balérica
...mais solitária que uma paulistana

Nenhum comentário:

Postar um comentário